Terça, 05 de Agosto de 2025
Mais de 5 mil mulheres indígenas se reuniram em Brasília na 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas para pedir proteção e denunciar as ameaças que enfrentam em seus territórios. A matriarca Pangroti Kayapó, de 60 anos, e sua neta Nhaikapep, de 22, viajaram mais de 32 horas de ônibus de São Félix do Xingu (PA) para participar do evento.
Para Pangroti e Nhaikapep, a conferência representa uma oportunidade de denunciar o impacto do garimpo ilegal em suas comunidades. Nhaikapep traduziu o apelo emocionado de sua avó, que se comunica em seu idioma originário: "Para que a gente proteja a natureza, pedimos proteção para nós, para nosso ambiente e nossa cultura".
Nhaikapep relatou que os rios Fresco, Iriri e Xingu, que cortam as terras Kayapó, estão contaminados por metais pesados. "Nos sentimos ameaçadas e afetadas mesmo em nossa comunidade, que teve o território demarcado", afirmou.
A abertura da conferência contou com a participação de cinco ministras de Estado: Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Márcia Lopes (Mulheres), Margareth Menezes (Cultura) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania). Elas discursaram sobre os esforços e as políticas de proteção às mulheres indígenas.
Um dos temas abordados foi o Projeto de Lei (PL) 2.159/21, conhecido como PL do Licenciamento ou PL da Devastação, que flexibiliza a obtenção de licenciamento ambiental no Brasil. O projeto, já aprovado pelo Congresso, aguarda sanção presidencial.
Sônia Guajajara criticou o PL, afirmando que ele fragiliza a luta dos indígenas em defesa da floresta e que as mulheres indígenas são vítimas de racismo e machismo. "Temos aqui a presença de mulheres de todos os biomas (...) Hoje estamos aqui para resistir", declarou.
A ministra anunciou que será formado um grupo de trabalho interministerial para elaborar estratégias de fortalecimento da proteção das mulheres indígenas.
Joênia Wapichana, presidente da Funai, defendeu o fortalecimento das políticas de proteção às mulheres indígenas no planejamento orçamentário do Brasil. "Nós estamos com ações de enfrentamentos contra violência. Precisamos dar um basta", enfatizou.
A ministra Marina Silva destacou que o governo federal tem promovido a desintrusão de invasores de terras indígenas e reconheceu que o desafio ambiental é "muito grande". "Aquelas que menos destruíram são as mais prejudicadas", disse, referindo-se às mulheres indígenas.
Marina defendeu políticas públicas para garantir o estilo de vida indígena de preservação e uso dos recursos naturais. Ela criticou líderes estrangeiros que não apoiam ações ambientais brasileiras e o ex-presidente Jair Bolsonaro por ser contrário à demarcação de terras indígenas.
Soraya Kaingang, de 44 anos, moradora da Aldeia Apucaraninha (PR), participou da conferência com seus quatro filhos. Ela lamentou a exposição das crianças aos agrotóxicos utilizados por produtores rurais brancos que invadiram seu território. "A gente produz milho, mandioca e feijão, mas está difícil. Vir até aqui é um jeito para que a gente conte nossas histórias, né?"